terça-feira, 24 de novembro de 2009

espetáculos - domingo

Fogo fátuo - cheguei atrasado. Entrei a peça já tinha começado. Apesar de perceber que havia um ritmo muito bom dos atores, um trato - e mais do que um trato, uma reverência - com o texto de Dona Lourdes, eu não ouvi muito do que os atores falavam; estava na metade da plateia e muito do que se falava no palco, simplesmente, não chegou. Outro problema era o cenário. Com uma série de cordas se entrelançando, cobrindo o palco de cima para baixo, um balcão de fogão, montado em pedra, com uma chaleira real esquentando água, forno esquetado e tudo, no centro da cena - ora, as demais marcações ao redor do palco foram delimitadas pela luz e utilizando outros espaços do palco, limitando a área de apresentação e dando pouca mobilidade, além do fato de parecer meio poluído, sem uma significação direta. No debate, o Pedro Pires falou sobre o ensaio do Antônio Cândido, acho o dialética da malandragem, no qual ele definia a figura do malandro. "Seria bacana, até para uma outra montagem, acho que não é o foco dessa, vocês atentarem para isso".

O castelo- como falei que tenho por dança uma "ignorância interessada", me falta subsídio teórico e convivência pra escrever, mas, mesmo assim, rabisquei alguma coisa pro jornal. Foi muito bom conversar com a Joyce Barbosa, diretora e coreógrafa do espetáculo. Vou republicar aqui:
Não é à toa que uma das propostas para o novo milênio, feitas pelo escritor Ítalo Calvino, seja a rapidez. A montagem da Paralelo Cia. de Dança, do espetáculo de dança, O Castelo, uma transcriação do universo do romance de Franz Kafka, pontuou uma série de questões simbólicas sob a perspectiva da agilidade. Joyce Barbosa, diretora e coreógrafa da companhia, assina a direção e a coreografia do espetáculo que contou teve participação de Arthur Marques. Os dois também assinam o figurino. As três bailarinas usam roupas em tom preto com pequenas variações. O cabelo com um topete falso e o lance meio retrô, meio ficção científica, cantou um pouco a pedra do espetáculo: o tempo é nenhum. Em qualquer época, o ser humano tende a complicar o simples, daí o inevitável dos rituais e da permanência da burocracia, essa arma que delimita espaços de poder, como ficou demonstrado no belo jogo de reiterações e figuras com as cadeiras de espaldar alto, lembrando as sombras de filmes do expressionismo alemão. Um toque especial de contemporaneidade, que eletrizou ainda mais a rapidez das cenas foi a executação da trilha sonora ao vivo, com a guitarra envenenada de Erick de Almeida, além das mixagens feitas no palco. A luz de Fabiano Diniz soube também criar a atmosfera sufocante em que o senhor K - multiplicado e expadindo em movimentos pelas três bailarinas Joyce Barbosa, Lília Maranhão e Vanessa Queiroga. A fumaça branca contribuía ainda mais para dar aquela cenarização de gelo e névoa - o branco e o preto do cenário e do figurino não estão de graça - também evocou a paisagem kafkiana de O Castelo. Um espetáculo vivo, pulsante e que procura refletir sobre questões atuais.



foto de Felipe Gesteira

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